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Italian woodcut of figures in a circle evoking/making pact with the Devil. (Photo by Time Life Pictures/Mansell/The LIFE Picture Collection/Getty Images)

O Brasil está fazendo todo um esforço para cair no buraco de uma Dark Age. Não faltam besteiras. Sob o aplauso de todos, vemos o país, nesta aurora de terceiro milênio, a se aprofundar em trevas.

— De onde elas vem? – pergunta o poeta.

Diante da História, o importante esclarecimento, é que o país encontrou sua faixa demarcatória. Curiosamente, não entre socialismo e liberalismo. O seu Muro de Berlim é outro. A sociedade brasileira não consegue captar as premissas da Era do Conhecimento que tomam conta do atual momento histórico. Ficamos na era das bobagens. A sua demarcação fica na acepção de marxismo cultural. Essa é a nossa verdade. Não temos outro alcance.

A visão de país do futuro mostra outra face. Após as euforias aparece a cara lavada. Somos um país conservador. Uma nação sem luta por uma identidade própria. Neste país vivemos, e a cada dia que passa sua Dark Age vai tomando conta. A nossa reação diante desse sistema de coisas é um fundamentalismo fugaz.

Dark Age não é um fenômeno novo. A Europa, após a queda do Império Romano em 476, seguiu sob 1000 anos de trevas. A sua salvação veio do mundo árabe. Enquanto, o ocidente estava em coma, a cultura mulçumana preservou as obras da Antiguidade. Não deixou que a cultura grega fosse perdida, traduziu seus textos e criou as universidades por volta de 700 d.c. Trazendo luz à escuridão europeia.

Pouco comentado, a Europa salvou-se graças ao estímulo provocado pelo Alcorão ao conhecimento. Algumas frases sobre a busca do conhecimento extraídas do Qu’ran: ‘ A melhor forma de cultuar é buscar o conhecimento’; A tinta da pena de um sábio é mais valiosa do que o sangue de um mártir; em inglês, “Acquire knowledge: it enables its possessor to distinguish right from the wrong, it lights the way to heaven; it is our friend in the desert, our society in solitude, our companion when friendless – it guides us to happiness; it sustains us in misery; it is an ornament among friends and an armor against enemies.”

Dessa estrutura árabe foram surgindo as universidades européias a partir de 1100 d.c. Bolonha na Itália, Paris na França, Oxford na Inglaterra foram sedimentando o caminho europeu das trevas à renascença. A partir do século 15 a Europa estava novamente fortalecida. A roda da circulação das ideias iria girar. Um novo florescimento cultural aconteceria.

A Renascença chegava. As artes, ciências, religião, economia ganhavam novo impulso. Saíamos da visão da Terra como centro do Universo. Em contrapartida a queda de Constantinopla em 1453, Colombo descobria um Novo Mundo em 1492. A religião conhecia a reforma de Lutero. A ciência ultrapassava a visão aristotélica. Bancos eram criados. Uma nova época se abria aquela Europa de noite longa.

Desde então, a Renascença originou a revolução científica de Galileu no século 16 e quatro revoluções industriais foram produzidas. Graças aos seus novos postulados chegamos ao momento atual. Pisamos na Lua e estamos ligados pela internet. Entretanto, mesmo assim, muitos países tiveram de percorrer sua Dark Age. Abordemos os dois maiores produtores conhecimento de nossa época: EUA e China.

Em 1925, os EUA levou a teoria da evolução para o banco dos réus. Brigas entre fundamentalistas cristãos e defensores da teoria da evolução aconteceram em Dayton, cidadezinha no estado americano de Tennesse. Foi o chamado Julgamento do Macaco. O acusado era o professor John Thomas Scopes. Declararam que, a teoria da evolução não apenas era profana, como também ilegal, e decidiram que ela não seria ensinada nas escolas. A China sofreu a revolução cultural na década de 1960 de Mao-Tse-Tung que elegeu o conhecimento, a arte e a liberdade de expressão como inimigos preferenciais do regime comunista chinês. História segue, e hoje, os EUA e a China são líderes mundiais na produção de conhecimento.

Neste escopo histórico, surge uma luz para irmos além dessa Idade das Trevas que assola as mentes do Brasil. Há algo mutante acontecendo. O homem tem-se se mostrado um animal em que a partir do virtual atua no real. A sua Era do Conhecimento transforma a Natureza a partir da folha em branco. Entretanto, o país vive a época das infindáveis bobagens inomináveis.

— Como sair dessa Idade das Trevas?

O caminho seria encontrar uma elite mobilizada. Mas, ao contrário, nos deparamos com uma elite paralisada. De um lado, deseja manter-se distante das barbaridades da Dark Age Tupiniquim, como expressões do tipo marxismo cultural; por outro lado, é uma elite apenas local que não consegue empreender os caminhos da Era do Conhecimento no país. Não consegue estabelecer um padrão de investir em conhecimento.

O fato é que nem a nossa academia nem a nossa classe empresarial se mostram capazes de elevar o país à Era do Conhecimento. Aceitam ser secundários. A academia se submete a uma produção científica a não discutir os postulados. Aceita ser inserida no universo das redações científicas. Enquanto a classe empresarial voltada ao mercado financeiro e as commodities. Gostam de surfar em ondas já prontas. Não conseguem serem geradoras nem investidoras de espaços psicológicos.

— Estamos diante de uma elite incapaz de gerar História.

Vivemos os males de uma cultura inexpressiva, a fingir que somos uma nação imbuída de elevados princípios. A elite acadêmica a aceitar o jogo intelectual do primeiro mundo e a empresarial de serviços e revendas. Esse é o país, sem o ímpeto de procurar ideias além do sistema. As nossas elites não se movem. Numa Era do Conhecimento não conseguem defender o papel de cultura. Sem propostas libertárias a chamar uma inquisição, a sua Idade Média se caracteriza mais por uma fogueira de vaidades.

— O Brasil tem solução?

Essa é a questão a se defrontar. A de entender se estamos num país ainda em desenvolvimento ou que já se decidiu como ação preferencial a de uma cultura à reboque. A constatação é a de um país sem pensamento critico, movido a um capitalismo de serviços e revendas, a inventar inimigos tipo Dom Quixote (aqueles que só existem em sua cabeça). Assim, o país se volta em cruzadas contra um tal marxismo cultural. Um desfile de besteiras, a desviar sua incapacidade de participar na Era do Conhecimento.

Neste quadro de última noite, estamos à espera de algo novo e profundo capaz de retirar o Brasil de sua Dark Age. O Mundo é feito de muitos ventos. Talvez um vento divino ainda sopre por aqui. A questão é quantos séculos levará para isto acontecer. Não mais podemos mais esperar por 1000 anos. Precisamos nos movimentar. Dizer algo dentro de nossa geração. Para tirar o Brasil dessa baderna, não basta esperar o morcego virar beija-flor. É necessário ir à luta. Defender a existência de conteúdo nacional.

Um dia o besteirol vai cansar. Uma luta acontecerá a se opor ao festival de idiotices. Do confronto entre besteirol e Era do Conhecimento deverá raiar a renascença brasileira. Um país com autocrítica, ressurgirá. Trazendo novamente a vontade de produzir cultura. Gerar espaço psicológico. Construir uma nova perspectiva de desenvolvimento à nação.

A Era do Conhecimento exige a integração entre trabalho-conhecimento-capital. Essa ser a premissa de uma nova ação política. Se quiser participar desse novo tempo, o Brasil deverá se respaldear por um movimento capaz de integrar educação-ciência-inovação-economia. Propor um caminho educacional objetivo que leve seus cidadãos a perceber os caminhos científicos da época, uma ciência capaz de gerar inovação e uma inovação a produzir riqueza.

A renascença brasileira, a mostrar que somos além de um país tropical, só tomará forma quando surgir uma consciência a respeito da geração de conteúdo nacional. Quando provocar uma militância aos temas educação, ciência, inovação, economia em prol do desenvolvimento do espaço psicológico do país. Esses tópicos somente encontrarão seu sentido comum quando a geração de conteúdo nacional for colocada à prova. À batalha desse dia devemos nos preparar.

Por Melk

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